Degustação

Olá pessoal. Como vocês estão?
Anteriormente, aqui ficava disponibilizado além do prólogo, o Capítulo 1 do Dias de Chuva, porém, resolvi mudar o formato de divulgação para um PDF dos dois primeiros capítulos, onde você pode, inclusive, espiar a diagramação linda que a Editora Estronho fez.

Bóra?
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Degustação - Dias de Chuva 
  




Prólogo
Gotas pesadas criam uma sinfonia crepitando nos carros, nas calhas e telhados. O casaco pesa por estar encharcado e não dou importância, fato semelhante ao peso no peito. Ouço o barulho das botas nas poças de água entre a rua e o meio fio. As luzes noturnas dos postes se dividem em mil fragmentos através da cortina translúcida que cai do céu. Eu paro no farol, mas a vida no peito cisma em pulsar. Tento camuflar a batida das botas no asfalto com o som da chuva quase como instinto. Não queria estar aqui. Não queria precisar estar aqui.
Desisto de tentar me esquivar das pesadas gotas cristalinas, pois logo vejo a porta do café aberta. Já sentada do lado de dentro observo casais, amigos, solitários muito ocupados consigo. Vejo pessoas comuns, homens de barba por fazer, mulheres embelezadas pela idade, resplandecem sorrisos maduros. Sento e espero. Admirando a chuva bater no vidro, peço um café. Olho para minhas mãos meio azuladas e não resisto a espiar minha pele do pescoço no reflexo do celular desligado. Está ficando difícil controlar a nova forma. Peço também uma vodca.
Me distraio com um homem de cabelos na altura da orelha, pele morena, barba por fazer e olhos negros. Sua beleza é madura e sorrio quando o vejo acenar para a garçonete de pernas roliças e cabelo tingido de vermelho. Não, não deve ser ele. Bebo o café antes da vodca. Respiro. Silencio meu peito e quando me viro a garçonete não está mais lá. Ignoro. Talvez eu espere a noite toda. Pego a bolsa de couro e a abro para verificar se meu livro não está molhado. Sinto alívio ao vê-lo seco. Dou o primeiro gole na vodca prevendo que a noite será bem longa.

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